segunda-feira, 9 de março de 2009


“Ele estava junto à parede dos fundos do supermercado. Virei a esquina e me deparei com ele. Fazia sol naquela manhã, pois muitos têm sido os dia de sol. Mas, como era ainda bem cedo e a cidade mal despertava, o sol esbranquiçado e preguiçoso lançava sobre a calçada uma luz tímida, oblíqua. Seus raios, depois de esgueirar-se por entre os prédios ainda envoltos pelas últimas sombras, incidiam sobre o chão apenas em um determinado ponto. E o facho de luz, reticulado pelos grãos de poeira em suspensão, derramava-se sobre as pedras portuguesas com um toque quase sobrenatural – como um raio de anunciação.
Pois era bem ali – no trecho da calçada banhado por aquele sol primeiro – que ele, o anjo, se encontrava”.

(Heloísa Seixas Contos mínimos. Rio de Janeiro: Record, 2001.p.61.)

Não acreditava no que estava vendo. Fechei bem os olhos, mas quando abri, ele ainda estava lá. Aquela figura angelical me encarava. Comecei a suar frio, minhas pernas ficaram trêmulas, minhas mãos suadas, fiquei com falta de ar, meu coração pulsava cada vez mais rápido... Cheguei a pensar que estava morrendo. Tentei afastar-me daquela figura. Para onde eu olhava, lá estava.
De repente, vi uma luz branca que me puxava em sua direção. Lutei contra ela, tentei correr, mas minhas pernas trêmulas não permitiam. Minha visão começou a falhar. Via tudo embaçado e com vários borrões pretos. Fiquei desesperada! Não queria deixar minha família e amigos para trás. Se soubesse que meu fim se aproximara, teria dado mais atenção aos meus familiares e amigos. Queria ter uma oportunidade de dizer o quanto eles são importantes para mim, mas era tarde demais.
Tentei, com muito esforço, fugir novamente, mas foi inútil. Acabei caindo e batendo a cabeça. Estava inconsciente.
Acordei assustada: onde estava e o que havia acontecido. Quando menos esperava, lá estava aquela figura angelical novamente me encarando. Antes que tivesse alguma reação, ouvi uma voz doce perguntando se eu estava bem. Logo percebi que a voz vinha de uma criança loira de olhos azuis. Parecia um anjo.
Perguntei à criança o que havia acontecido. Ela disse que quando eu virei à esquina do supermercado, caí batendo a cabeça e tinha desmaiado. Fiquei aliviada, pois tudo não passara de um sonho.


Joyce Alves Marques

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