segunda-feira, 2 de março de 2009


“Ele estava junto à parede dos fundos de um supermercado. Virei a esquina e me deparei com ele. Fazia sol naquela manhã, pois muito tem sido os dias de sol. Mas, como era ainda bem cedo e a cidade mal despertava, o sol esbranquiçado e preguiçoso lançava sob a calçada uma luz tímida, obliqua. Seus raios, depois de esgueirasse por entre os prédios ainda envoltos pela ultima sombra, incidiam sob o chão apenas num determinado ponto. E o facho de luz, reticulado pelos grãos de poeira em suspensão derrama sobre as pedras portuguesas com um toque quase sobre natural – como raio de anunciação -.

Pois era bem ali – no trecho da calçada banhado por aquele sol primeiro – que ele, o anjo, se encontrava.”

(Heloísa Seixas Contos mínimos. Rio de Janeiro: Record, 2001.p.61.)

Somente uma reação era plausível, a de mais completo espanto; fechei meus olhos incrédula que estava vendo tal ser, era uma figura tão pura, tão angelical, tão bela........, não pude manter meus olhos fechados por muito tempo, tive que abri-los na ânsia de ver tal ser novamente, por mais uma vez.
Olhei-o novamente, e qual não foi minha surpresa, ele ria para mim, um riso tão indescritível e chamava-me para mais perto de sua beleza estonteante. Não pude resistir ao convite. Senti-me coagida a segui-lo, não poderia perdê-lo de vista sem maiores informações.
Aproximei-me mais de sua luz, ela se tornava mais intensa à medida que me aproximava. Quando me encontrava bem mais perto dele, ele falou:
- Vim de longe para vê-la, não me faça muitas perguntas, nosso tempo é curto. Apenas siga-me e aproveite bem cada momento.
Depois daquelas palavras proferidas, ele segurou minha mão e de repente estávamos sobrevoando minha cidade; de fato estava sendo um dia maravilhoso um dia maravilhoso Passamos por muitos lugares que há muito tempo não via: o sítio de minha família, a rústica casa de meus avós no interior, meus amigos de escola e de faculdade. Posteriormente passamos pelo edifício de meu trabalho, a minha casa, o mercantil, dentre as paisagens vistas eram as que eu mais freqüentava atualmente. Estranhamente senti uma sensação de solidão, de isolamento, parece que rever todos aqueles lugares despertou em mim um sentimento nostálgico.
Por fim, passamos pela casa de minha família, qual não foi minha surpresa ao ver o quanto meus sobrinhos tinham crescido, o quanto meus pais tinham envelhecido, eles não tinham tantas rugas da última vez que os vi, minha irmã caçula, era agora uma mulher; realmente o tempo passa sem sentirmos. Há pouco tempo eu era uma criança e hoje sou uma mulher repleta de responsabilidades.
Diante de minha cara o anjo perguntou:
- Qual foi a última vez que você viera ver sua família?
- Para ser bem sincera, meu mais novo amigo, eu não sei ao certo. Sei somente que minha omissão tem sido tão grande que nem sei mais se posso me redimir. Tenho pensado tanto em trabalho, em lucro, em ganho, que minha família tem sempre ficado para trás.
Foi com um tom de escárnio na voz que ele por fim falou-me:
- Pois bem, se você tivesse que largar tudo agora, se sua morte fosse anunciada e você tivesse que vir comigo o que faria?
- Imploraria para ficar por mais algum tempo. Sei que minha missão ainda não esta concluída, muito ainda precisa ser revisto, analisado, pensado e principalmente modificado
E como num passe de mágica aquele anjo desapareceu da mesma forma que surgira, abruptamente.
Foi então que me dei conta de quanto precisamos ser provocados por algo mágico e inacreditável para percebermos com mais clareza as chances maravilhosas que a vida nos oferece para sermos felizes. Basta querermos.

Isabelly Cysne Augusto Maia

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